História do prato
Fui em busca de mais informações sobre a origem desse pão típico de Blato, na ilha de Korcula, Dalmácia. Como a comunidade croata não é assim tão grande, mesmo em São Paulo, consultei uma amiga, também editora, de origem croata. Ela, por sua vez, me indicou um amigo, professor de croata que havia ajudado na tradução de um livro de receitas dálmatas. Nenhuma surpresa ao descobrir que a autora é casada com um primo de dona Jacira. Parece filme, não? Mas é pura vida real.
Além de algumas informações do livro de Katia Gavranich Camargo (Escrituras, 2014), encontrei um site em inglês que as confirma e traz outras, bem interessantes.
A origem da lumblija, preparada em Blato há cerca de 200 anos, está ligada à conquista napoleônica da Dalmácia. Um soldado-padeiro francês teria se apaixonado por uma jovem da ilha; ao se despedir, com a partida de seu exército, presenteou-a com um pão doce e lhe pediu "n'oublie pas" (não esqueça). Aos ouvidos de sua amada, aquilo soou como "lumblija", e este foi o nome dado a esse tipo de pão perfumado e saboroso. A lumblija está assim associada às pessoas que não queremos esquecer e é preparada normalmente no início de novembro, quando acontece inclusive um grande festival na ilha, os Dias de Lumblija, para escolher a melhor dentre elas.
No Brasil, com os Bacic e dona Jacira, ela ganhou um sabor natalino e talvez pequenas adaptações. Mas o que importa mesmo é como ela é aguardada ansiosamente por todos.
Receita de Lumblija - panetone à moda croata, por Jacira Mesquita
Para 2 unidades, comece preparando os temperos. Rale 2 unidades de noz-moscada, junte cravo moído, canela em pó, casca ralada de duas laranjas, um pouco de pimenta-do-reino (não costumo colocar porque fico com medo de que fique forte - minha avó sempre usava); se for fácil encontrar, coloque um cálice ou dois de licor de anis.
Faça agora a esponja com fermento (regule para cerca de 2kg de massa), água ou leite morno, um pouco de açúcar de trigo. Deixe crescer até dobrar de volume.
Bata 4 ou 5 ovos com 500g de açúcar, junte 4 colheres bem cheias de manteiga ou margarina em temperatura ambiente, um copo e meio de leite morno e um pouquinho de sal. Junte a esponja, os temperos e 750g de farinha de trigo, misture com colher de pau. Deve ficar bem mole, tipo um mingau, se precisar coloque mais um pouco de leite. Retire da tigela, coloque no balcão e "rasgue" a massa: isso se faz empurrando porções dela com o pulso (a parte interna dele) sem tocá-la com os dedos; empurre para a frente e traga com os dedos flexionados em concha. Repita esta operação até obter um produto bem homogêneo. Junte farinha de trigo aos poucos e vá amassando até que a massa fique elástica e ainda "grude" um pouco nas mãos. Deixe-a crescer em lugar protegido e coberta com um guardanapo até mais que dobrar de volume.
Prepare as frutas: corte nozes em pedaços não muito pequenos, junte laranja, figo e cidra cristalizados picados. Escorra cerejas em calda, seque-as com um guardanapo de papel e corte-as; junte passas brancas e pretas sem sementes, e um pouco de farinha de trigo. Sacuda bem para que a farinha envolva tudo delicadamente (use pouca farinha).
Divida a massa em duas ou três porções, recheie, coloque nas formas e deixe crescer novamente até dobrar de volume.
Asse em forno preaquecido a 200 graus, aproximadamente, até que estejam bem moreninhas. Faça uma pasta mole com açúcar e água, espalhe com pincel sobre cada lumblija e leve ao forno por mais alguns minutos para secar o açúcar.
Dobar tek, bom apetite!